sexta-feira, 8 de abril de 2011

ENTREVISTA: ADAM RUBENSTEIN


Por Marcelo Viegas

Adam Rubenstein. Guitarrista de duas importantes bandas do post hardcore dos anos 90: Split Lip e Chamberlain. Com o fim do Chamberlain, em 2000, Adam mudou para Nova Iorque, lançou um disco solo (com o nome artístico Adam Dove) e seguiu tocando com diversos músicos, inclusive acompanhando o também ex-Chamberlain David Moore em sua carreira-solo. O Zinismo encontrou o cara no Myspace e conseguiu essa entrevista exclusiva. Confira!

Lá se vão 10 anos desde seu último disco solo, Aftershock. O que você fez nesse tempo todo?
Eu mudei pra cidade de Nova Iorque bem na época que esse disco estava sendo lançado, e continuo morando aqui. Eu planejava montar uma banda para promover esse álbum, mas nunca encontrei os músicos certos para fazer isso funcionar. Fiz diversos shows acústicos sozinho, mas nunca me senti suficientemente confortável nesse formato, então não segui em frente com essa ideia. Desde então embarquei em diversos projetos musicais, e toquei em algumas bandas, mas creio que não vale a pena listá-las aqui. E agora iniciei um trabalho com um cantor e compositor fantástico, num projeto chamado Dear Lions.



No seu profile do Myspace há algumas músicas novas, como “I Retrieve” e “Stray”. Você tem planos para um disco novo?
Na verdade, “Stray” é uma música de um projeto que fiz com Charlie, do Chamberlain, chamado Bad Moon Music. Nós lançamos um EP alguns anos atrás, pelo selo Hawthorne Street Recs. As outras músicas que estão rodando por aí são apenas demos que gravei em casa. Eu tenho planos para um novo álbum sim, que por sorte já está 90% composto. Estou apenas no aguardo da oportunidade (e da grana) para fazê-lo direito.

Você continua tocando com David Moore (ex-vocalista do Chamberlain)?
Sim, David e eu fazemos shows de tempos em tempos. Mas como o disco solo dele já saiu faz algum tempo, demos uma esfriada nos shows de divulgação. Recentemente, aliás, fizemos alguns shows de reunião do Split Lip/Chamberlain. Além disso, já tivemos algumas conversas acerca do novo álbum do David. Estamos todos muito orgulhosos do My Lover, My Stranger, mas imagino algo um pouco mais “lo-fi” para o próximo disco. Possivelmente faremos ao vivo, e creio que o vocal de David poderia se beneficiar com isso.

Aftershock foi lançado em 2001, mesmo ano do último disco do Chamberlain, Exit 263, e ambos foram gravados no mesmo estúdio (Airtime Studios). Seu disco solo tem músicas que você pretendia usar no disco do Chamberlain, ou vice-versa?
Não, não há a menor relação musical entre esses dois discos. Aftershock foi composto no verão que eu saí da banda e havia voltado pra Bloomington (IN) para finalizar minha graduação em jornalismo. Honestamente, minha intenção era que meu álbum solo tivesse uma orientação musical bem distinta daquelas últimas gravações do Chamberlain. Algumas músicas do Exit 263 (que é um lançamento não-oficial, não foi aprovado pela banda, é sempre bom lembrar) eram apenas idéias exploratórias, na sua maioria. Naquela época, estávamos ouvindo muito alguns clássicos, especialmente coisas do catálogo da Motown e Stax, e ainda não tínhamos certeza de como introduzir essas influências no nosso som. Eu acredito que a banda poderia, eventualmente, ter encontrado esse caminho, e acertado melhor essas músicas, mas nunca tivemos essa chance.


Sua carreira solo não carrega tanta influência de country music quanto a última fase do Chamberlain. Isso foi um ato pensado, pra evitar comparações?
Como já disse, eu de fato queria que esses sons (da minha carreira solo) fossem diferentes do material do Chamberlain, mas não acho que o distanciamento da influência country foi necessariamente intencional. Fazer o Aftershock me permitiu focar em outras influências, que provavelmente não seriam “abraçadas” pelos caras do Chamberlain. Essas influências das quais estou falando tem mais a ver com música inglesa do que americana.

Por que decidiu usar o sobrenome Dove ao invés de Rubenstein (como na época do Chamberlain) na sua carreira solo?
Eu me arrependo um pouco dessa decisão. Isso gerou uma certa confusão. De qualquer maneira, Adam Dove é o nome hebreu que meus pais me deram (Dove era um tio meu, morto no Holocausto). Eu achava que meu próprio nome não tinha uma força fonética muito boa...

Você fez parte de duas bandas muito influentes no cenário do post hardcore dos anos 90, Split Lip e Chamberlain. Você é um cara nostálgico, do tipo que se pega pensando sobre aquela época?
Eu penso bastante sobre a banda. É uma coisa muito forte passar a maior parte da sua adolescência (e começo da vida adulta) com o mesmo grupo de amigos. Nós cinco, os membros originais, nos relacionamos uns com os outros bem melhor do que com outras pessoas, porque, de certa maneira, nossas experiências juvenis são um espelho para cada um de nós. Durante algum tempo eu evitei pensar sobre a banda, porque havia alguns ressentimentos em jogo. Porém, como a banda fez alguns shows de reunião, eu penso que eles serviram, para todos, como uma espécie de validação da nossa música. Esses shows foram muito emotivos para todos nós. Mas foi ainda mais gratificante perceber como eles (os shows) tocaram o público. É surreal saber que nossa música é a trilha sonora da juventude de outras pessoas. E foi, sem dúvida, a trilha sonora da minha.

Ouvindo sua música hoje em dia, você acha que ainda é possível sentir o background punk/hardcore que marcou sua trajetória no passado?
Creio que sempre terei alguma dose de agressividade. Tendências sonoras agressivas. Em Nova Iorque, toquei em bandas bem "na manha", e muitas vezes precisei lutar pra frear aquela agressividade punk. Eu sempre preciso me policiar quanto às mudanças de volume na hora de tocar guitarra. E nós certamente não tínhamos muitas alterações de volume na época do Split Lip.


Sua geração ajudou a desenvolver o gênero conhecido como emocore. Bandas como Farside, Sense Field, Samiam, Sunny Day, Split Lip, etc. Você é daqueles que rejeita o termo “emo”?
Na época, odiávamos o termo. Queríamos apenas ser uma banda de rock, sem fronteiras. Nós sentíamos que a palavra emo aprisionava a banda, e isso nos restringia ao underground. Porém, o Emo – nesse sentido - não existe mais. Na verdade, o termo Emo perdeu todo seu sentido, pelo menos pra mim. Não existe mais uma cena Emo. Eu diria que é sim uma honra ser chamado de precursor do Emo, apenas porque se tornou uma coisa gigantesca. É um orgulho ter influenciado algo que se tornou tão grande.

Quando o Chamberlain lançou o álbum The Moon My Saddle, ficou clara a mudança sonora, da influência country e tal. Como foi a reação dos fãs na época?
Na época, nós morávamos no sul de Indiana. John Mellencamp (astro da música de raiz americana) morou na mesma cidade. E nos tornamos orgulhosos de nossas raízes... Em parte, foi isso. E, além disso, fomos ficando mais velhos e mais sensíveis (musicalmente), e percebemos que havia um mundo de sons para além da comunidade do punk e do hardcore. Uma estratosfera de sons, como Dylan, Van Morrison, Springsteen, Tom Petty, etc, que acabou tomando de assalto nossas preferências, outrora circunscritas ao nosso próprio nicho. É natural que tenhamos evoluído musicalmente. No começo, metade dos nossos fãs ficou ressentido com a mudança, mas creio que, com o passar do tempo, eles foram entendendo, curtindo. Tenho muito orgulho do The Moon My Saddle, pois creio que ele tem uma qualidade duradoura, se comparado aos outros discos.

O que você tem escutado?
Das coisas novas, tenho ouvido Dr. Dog, The National e Frightened Rabbit. Passei também por uma fase forte de Big Star. Inclusive, estava em Austin quando o vocalista Alex Chilton morreu. Os membros remanescentes da banda fizeram um show-tributo, e foi realmente fantástico estar lá para ver isso.

Qual sua música favorite do Chamberlain?
Provavelmente “Racing Cincinnati” (na nossa versão integral). Essa música nunca teve um lançamento adequado, com a participação da banda toda. Ao invés disso, fizemos aquela versão piano e voz que está em The Moon My Sadddle. Eu realmente amo o aspecto emotivo e a simplicidade dessa música. Ainda me emociona, e ainda costumo tocá-la, de tempos em tempos.

Por que decidiram mudar o nome da banda, de Split Lip para Chamberlain. Para você, é a mesma banda?
Achávamos que o nome original estava soando muito juvenil e, ainda mais importante, que não combinava mais com nossa música. Eu quase enxergo como duas bandas diferentes. Fizemos um esforço consciente para (no Chamberlain) deixar de lado nossas influências de metal e hardcore. E, ao mesmo tempo, o nome Chamberlain era um pouco mais ambíguo. Mais aberto a interpretações, assim como nossa música.

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