quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A DURA MISSÃO DE SER DIY


“Quem ta no rock tem que se foder”. Essa clássica frase que ecoa desde que o rock é rock, por esses dias insistiu em bater em minha porta. Um bocado de vezes.

Ainda quero ver alguém descobrir exatamente o que faz uma pessoa em dia com suas razões psicológicas a se meter em projetos que não lhe traz nenhum retorno financeiro – muito pelo contrário – e que ocupam todo o seu tempo livre.

Em dias seguidos ouvi que “quem se mete em uma atividade independente, nunca consegue fazer apenas uma coisa”. Como se não bastasse gastar seu tempo produzindo um fanzine, lá vai o cabra montar uma banda. Quando ele para pra pensar, já está organizando shows. Aí, ele também desenha. Faz um cartaz. Está articulando com diversas pessoas. Pronto. Não tem mais volta.

Para quem ainda não tem responsabilidades familiares, ou seja, é solteiro, fica bem mais fácil lidar com a infinidade de compromissos que a arte underground propicia.

Ao contrário do crescido e multiplicado ser casado que tem que arrumar os maiores argumentos do mundo para não almoçar domingo na casa da sogra, negar ir à cerimônia de casamento da amiga de serviço da mãe. E o que é mais difícil: justificar de forma detalhada o desvio no orçamento mensal e, às vezes, a quase não aparição em casa em alguns momentos.

Seria tudo mais fácil se o nosso guerreiro não tivesse que ficar oito horas em um emprego que pouco (ou nada) tem a ver com a sua atuação independente. Isso é um absurdo! Horas de criatividade e atividade perdidas em um... emprego! Mas... mas... vida alternativa não dá grana, lembre-se disso!

OK, vamos esquecer um pouco essa ideia. Mas valeu o desabafo!

Voltemos à realidade. O que resta então é utilizar as horinhas diárias que restaram para produzir e aproveitar cada segundo do disputadíssimo final de semana!

Segunda-feira. Lá vai o nosso herói se arrastando para o serviço, com a enorme sensação de que o final de semana foi curto e que precisava de uma folga no primeiro dia útil da semana – como se tudo que se faz aos finais de semana fosse inútil. E esse ciclo vai se repetindo no restante do mês. Do ano. Sempre com aquele discurso-padrão: não tenho tempo, ta corrido... Mas não para de produzir. Jamais.

Ora, mas pra resolver esse problema de tempo, é só deixar as coisas subversivas de lado e ficar de bobeira em casa. Facinho. Mas que nada!

Quando se opta em ser independente, não é mais possível pensar em uma vida normal. Aquela coisa de chegar em casa, tomar banho, jantar assistindo o Jornal Nacional e ir dormir. Isso não faz o menor sentido pra esse workaholic independente.

Abrir mão do normal way of life é mais do que uma opção, é uma missão. Missão que está incrustada no produtor independente, que parece nunca ter fim.

Produzir é uma obsessão incontrolável! E a impressão é que sempre falta alguma coisa a fazer.

Não adianta. Só ele e seus iguais que entendem. Mais ninguém.

Conclusão: o cara que tem essa missão estampada na testa não vai ficar buscando respostas para os porquês do do it yourself. Ele vai lá e faz.

Simples assim.

7 comentários:

  1. O texto é excelente, mas é incrível como o desenho já diz tudo! TUDO!

    Começou em grande estilo!

    ps. e essa coisa de produzir, produzir, produzir e encontrar tempo onde não havia, encontra um belo exemplo na sua entrada no Zinismo: mais um campo de produção, para quem já tinha outros tantos. Assim é que é!

    ResponderExcluir
  2. Aê Sno! Parabéns e sucesso! Quando me pego reclamando q me falta tempo pra fazer as coisas que preciso e as que gosto, eu paro um pouco, penso em pessoas como você e consigo um pouco mais de energia pra seguir. Queria ao menos ter metade da tua determinação! Como nos velhos tempos, putabração!

    ResponderExcluir

Andarilhos do Underground: ZINAI-VOS!!!