terça-feira, 10 de abril de 2012

NÚMERO ÚNICO: REVISTA VIRTUAL DE COLAGENS


Uma das atividades mais corriqueiras na vida de um zineiro dos anos 90 era resenhar outros zines. Mas, e já transferindo pro meu caso, não era hábito escrever sobre fanzines de arte. Ainda que todo zine seja uma pequena obra de arte, falo aqui do conteúdo mesmo: zines cujas páginas eram preenchidas por trabalhos artísticos. Não, nunca topei com muitos desses. Costumava receber o OLIX, do grande Lauro Roberto, mas aquilo não era pra explicar, era pra sentir, tocar, cheirar. Parada de arte mesmo, “tá entendendo”? A verdade-verdadeira é que explicar a arte por palavras é sempre uma tarefa ingrata. Mas, pra aliviar o peso da missão, existe sempre a (boa) desculpa da divulgação. E, por mais under-pride que seja o artista, ele sabe que sua obra, nome e estilo precisam ser divulgados. A obra, na minha humilde opinião, só faz sentido quando compartilhada, apreciada, dividida com outro vivente.

Prólogo longo demais para dizer o seguinte: segue nas próximas linhas uma tentativa de resenha do novo zine virtual (PDF) do nosso camarada Fábio A., que já deu as caras aqui no Zinismo noutras oportunidades.

Here we go...

Número Único (Entartete kunst) é o nome do brinquedo. Entartete kunst é “arte degenerada” em alemão, uma política/campanha de depreciação artística (da arte moderna) empreendida pelo regime nazista. Tem um livro muito bom sobre esse tema, chamado “O Modernismo Reacionário”, escrito por Jeffrey Herf e lançado no Brasil em 1994 pela Ed. Ensaio. Fora de catálogo, mas mole de achar em sebos físicos e virtuais, o livro mostra as raízes (República de Weimar) desse pensamento contraditório da direita alemã, que abraçava com fervor o modernismo técnico, ao mesmo tempo que propunha um retorno ao passado cultural. Daí o bem bolado titulo do livro, Modernismo Reacionário. De certo modo, uma compilação de colagens feitas a mão e disponibilizadas num arquivo PDF pela internet, não deixa de carregar um pouco desse espírito de misturar o moderno e o arcaico. Livre de qualquer menção nazista, fique claro!

O arquivo PDF traz 11 artistas. Colagem é a palavra-chave pra definir o conteúdo. Vou comentar na ordem da barra de rolagem.

Fred Free. Estadunidense da terra do Bruce Springsteen. Com um padrão de cores bem definido e ao mesmo tempo indefinível (bege, marrom, vermelho, cinza), suas colagens usam muitos recortes dos anos 60. Sabe usar o vazio. Resulta em obras bonitas. Retrô. Eu colocaria na parede (acho).

Rogério Geo. Conheci através do Grão. Já entrevistei pra Cemporcento. Suas obras selecionadas pra essa revista virtual fazem jus à sua principal característica: misturar temas históricos/políticos com pop art/grunge/rock. Entretanto, é legal ver colagens que se afastam um pouco desse padrão, como no estilo mais clean/sixtie do trampo da página 19. Gostei bastante da página 17, e algo me diz que “In Circles” faz referência ao Sunny Day Real Estate. Tô errado, Geo?

Um tal de Flávio Grão. Dizem que faz parte de um blog chamado Zinismo. Dizem que fez curso de HQ na ASBA. Dizem que suas telas (pinturas à óleo) são belíssimas. Dizem também que seu forte é desenhar, mas que sempre está manuseando tesouras e gastando dinheiro no Xerox. Dizem ainda que artistas são assim mesmo, inquietos e curiosos, atacando em diferentes áreas/estilos. Mas eu não sei de nada, não conheço direito o trampo do cara e por isso apenas reproduzo aquilo que ouvi falar. É o que dizem...

Sara Serna, colombiana, 22 anos. Colagens que retratam o universo feminino. Delicadeza (isso eu vi) e questionamento do atual papel da mulher no mundo (isso confesso que não consegui captar, mas aí é meu limite e não o dela).

Da sutileza da Sara pra depravação do Rael Brian. Velho conhecido aqui da casa. Sujeira, construção/desconstrução (ou o contrário, sei lá), hardcore, skate. O momento capa do Carcass (Reek of Putrefaction) dessa revista virtual.

Luiz Carioca. Como o apelido faz imaginar, é carioca. Não conhecia. Achei muito style descobrir uma caveira-monstro do ETE (Muzzarelas) no meio das suas colagens. Por outro lado, acho muito clichê recortes da Mona Lisa. O favorito é o trampo da página 52, que mistura uma marcha militar (os nazistas em Paris?) na Champs-Élysées com algum morro do Brasa. Bem legal.

Fábio A. Não vou falar desse cabra. Já falamos muito dele aqui. Teve até entrevista!

Rufus. Ele também usou recorte da Mona Lisa. Não é “da boca pra fora” quando digo que isso é clichê. Pessoal das colagens: chega de Mona Lisa! Mao, Hitler e Guevara também estão na lista dos famosos que devem ser evitados, ok?

Guilherme Adami. 17 anos, morador de Brusque (SC) e adepto das colagens. O que isso quer dizer? Só pode ser um reflexo de outro morador ilustre da cidade, o Rael Brian! Rael fazendo escola! O estilo do jovem Adami, no entanto, parece ser bem diferente da desgraceira do Rael. Mais limpo, mais baseado no PB, com utilização de imagens/fotos antigas.

Lucas Pires. De Niterói. Não conhecia. Trabalha com PB também. Tem geometria envolvida, alguma geometria pelo menos, afinal seus recortes são regulares/retos. Através de imagens, conta como foi a semana (qualquer semana ou uma semana específica? Isso não dá pra saber). Do tédio a maconha.

Alex Vieira, da revista Prego, encerra o Número Único com uma única obra. Trata do embate Copyright x Copyleft.

Baixe aqui o seu Número Único.

...

4 comentários:

  1. Po, que foda. O trabalho do Alex com a revista prego e suas colagens são demais. Avante.

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    1. Podecrê, Everton! valeu pela visita e pelo comentário. Baixe o Número Único!

      abs
      Viegas

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  2. Po beleza de resenha viu Viegas, cheia de informação e tudo mais!,o zine já vinha movido de um UP dos bons pela repercussão que deu depois de lançado via net, agora os meninos devem estar mais felizes ainda, Parabéns Zinismo!

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  3. Is we, parceiro!
    valeu pela arte, pela visita e pelo comentário!

    abs.

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Andarilhos do Underground: ZINAI-VOS!!!